Uncut Gems 

Benny & Josh Safdie / 2019



Get Rich Or Die Tryin’
         50 Cent


He’s a player, a swindler, a gambler, a scammer, a world class bullshiter, a man on a mission, a father and a husband. He has swagger, he’s streetwise, he’s faking till he makes it, he lives on the edge (You’re so extra protesta a babe instalada num apartamento em Manhattan), he wants to hit big. Adam Sandler é a personificação da insaciável gula americana, not bigger than life but like life itself.

O american dream é violento, é implacável, é eufórico, é, como a melhor pornografia, irresistível e uma grande vigarice. We love the trick, I mean, no circo da vida, relutantes em sair da plateia, em assumirmos o risco, adoramos ver funâmbulos percorrendo a corda bamba, estatelando-se com glória ou escapando por um triz. O gozo maior é deles; tentar-nos com o abismo, o papel de filmes como este. Wanna jump?

A montagem de Uncut Gems emula a alta velocidade da vida em Nova Iorque, o ritmo alucinatório dos seus lobos de Wall Street. O filme alude mas dribla a melancolia existencial de Cassavetes e a grandeza operática de Abel Ferrara, não é áspero mas frívolo, a vida é filmada não como tragédia ou comédia mas como movimento incessante e vertiginoso, a auto-comiseração e o júbilo esgotam-se no limpar das lágrimas ou quando os braços descem do ar, a low-life é uma sucessão de aventuras picarescas, de performance constante, ebulição de perigos, desejos e muita adrenalina, de onde não saem vencedores mas sobreviventes animados pelo pulsar exuberante de energia vital da qual se retira tanto prazer como de um orgasmo – I’m gonna cum.

Esta euforia irresistível é semelhante à de Joaquin Phoenix na primeira parte de We Own the Night, a euforia da coca e da farra ao som de Ska nos projects de Queens e nas discotecas mafiosas de Brooklyn; mas enquanto Phoenix é uma tortured soul, o filho pródigo que fará a sua catarse e encontrará a redenção, Adam Sandler é o judeu condenado ao jugo da diáspora, o judeu errante que vive through the fire and through the flames, o judeu irrequieto e neurótico, que teima em se esquecer que toda a sorte é maldita e que a uma provação se segue outra. Duas alegorias, dois brilhantes desempenhos.

O funâmbulo não caiu da corda, mas, já com os dois pés no parapeito e de alma jubilante, got shot in the head. The colon was pretty clean though. O que podemos concluir daqui? O filme é como um afundanço do Kevin Garnett: apreciá-lo em câmara lenta é perder o essencial: o movimento repentino e explosivo, o estrondo do aro, o splash na rede. No fim, não queremos sentar a obra no divã e submetê-la a uma análise corriqueira, mas dress up, sair à noite, full of swagger, apanhar uma jarda, mandar umas linhas, dormir em casa da babe, feel alive and live the dream – in the dream.


Pedro Ramires